A destinação de R$ 7,5 milhões do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) ao filme O Agente Secreto, dirigido por Kleber Mendonça Filho, reacendeu o debate sobre o uso de recursos públicos em produções culturais no Brasil. Embora o investimento esteja dentro das regras do setor e não envolva a Lei Rouanet, o tema voltou a gerar discussões sobre prioridades orçamentárias e o papel do Estado no financiamento da cultura.
O FSA é administrado pela Agência Nacional do Cinema (Ancine) e financiado por contribuições específicas do próprio mercado audiovisual, como a Condecine, paga por emissoras de TV, produtoras e plataformas de streaming. Por esse motivo, o fundo não retira verba de áreas como saúde, educação ou segurança, sendo aplicado exclusivamente em políticas voltadas ao desenvolvimento do audiovisual.
Ainda assim, o volume de recursos destinados a determinadas produções desperta questionamentos. Em um cenário de restrições fiscais e demandas sociais elevadas, parte da sociedade defende que o Estado deveria revisar o alcance dos incentivos, priorizando ações de maior impacto imediato. Especialistas, no entanto, argumentam que o audiovisual é um setor estratégico, com retorno econômico expressivo e capacidade de gerar empregos diretos e indiretos.
Segundo dados do Ministério da Cultura, o setor movimenta cerca de R$ 70 bilhões por ano e é responsável por aproximadamente 600 mil postos de trabalho no país. Além disso, os projetos financiados com recursos do FSA costumam estimular a cadeia produtiva do cinema, envolvendo profissionais de diversas áreas, de técnicos a artistas.
No caso de O Agente Secreto, o investimento público de R$ 7,5 milhões representa pouco mais de um quarto do orçamento total da produção, estimado em R$ 27,1 milhões. O restante foi composto por aportes da iniciativa privada e de coproduções internacionais com França, Alemanha e Holanda. O filme, estrelado por Wagner Moura, está cotado para representar o Brasil em até cinco categorias no Oscar de 2025 e estreia nos cinemas nacionais em 6 de novembro.
Para analistas do setor, a discussão sobre o uso de recursos públicos no cinema reflete uma tensão recorrente entre incentivo cultural e responsabilidade fiscal. Enquanto parte da sociedade questiona a pertinência desses aportes em períodos de dificuldade econômica, produtores e economistas da cultura defendem que o investimento deve ser visto como política de desenvolvimento e não apenas como despesa.
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